Neste final de semana o teatro Dulcina, em Brasília, recebeu um musical que poderia muito bem ser das histórias que rodeiam aquele local. Localizado no CONIC – região da capital conhecida pela prostituição, drogas, diversidade sexual e o clima de “inferninho” - o teatro recebeu a montagem acadêmica do musical RENT – Sem tempo a perder.
Um dos espetáculos mais aclamados da história, Rent foi escrito pelo autor Jonathan Larson e estreou na Broadway em 1996. Rapidamente o musical reuniu uma legião de fãs apaixonados pelo espírito de amor e amizade que envolve a trama.
Ambientada numa Nova York dos anos 80, a história aborda a vida de oito amigos que vivem lutando e enfrentando conflitos como: sobreviver às drogas, manter a integridade, vencer o vírus da AIDS, pagar o aluguel e ainda conseguir tempo e coragem para viver o amor.
A montagem brasiliense que fez curta temporada neste fim de semana foi comandada pela Actus produções e contou com um elenco jovem e de talento inegável. Nomes conhecidos do circuito de musicais candangos como Luiza Lapa, Fábio Gomes e Rogério Guedes somaram-se a novos e promissores talentos.
As versões musicais foram adaptadas com fidelidade e brilhantismo por Rafael Oliveira e Raquel Fernandes o que ajudou a platéia a mergulhar na profundidade do enredo e por diversas vezes a se emocionar.
O elenco
É impossível classificar esse elenco como acadêmico. O que se viu nas cinco apresentações foram os profissionais que estarão, muito em breve, brilhando nos palcos das grandes produções do país.
Se existia dúvida de que Brasília cada vez mais tem produzido bons artistas para musicais, a cada espetáculo essa desconfiança diminui. O elenco que se apresentou neste final de semana é a prova do processo de maturidade que o ramo tem alcançado no cerrado. Tanto que a maioria dos personagens contava com dois ou mais artistas que se revezavam durante as sessões.
Em um grupo que tanto emocionou os espectadores é difícil destacar somente uma revelação. Porém é merecido citar a atuação de Rafael Vieira como a transexual “Angel”, um dos personagens de maior apelo dramático. Ficou nítido que o ator entendeu a complexidade do papel e carregou seu potencial dramático até o último minuto.
Outra agradável surpresa foi o desempenho de Gabriel Estrela, como Tom Collins. A reprise de “I´ll cover you” emocionou e se fez um dos pontos altos do espetáculo.Rogério Guedes, o outro Collins, despediu-se dos palcos de Brasília em grande estilo. Com uma voz única e talento inegável o ator/cantor após RENT está de partida para São Paulo onde pretende buscar novas oportunidades.
O ensemble (coro) também sustentou bem o ritmo da peça. Com participações importantes durante os atos, conseguiu sair do marasmo de “corista que ninguém lembra quem é no final”.
Todos os intérpretes merecem igual prestígio do público e citá-los um por um tornaria este texto longo e cansativo. Quem freqüenta os musicais de Brasília já teve a oportunidade de se deliciar com os talentos de Fábio Gomes, Luiza Lapa, Fernanda Cascardo, Camila Meskell entre outros.
Por mais que se tente achar um elo fraco na montagem, a verdade é que todos surpreenderam aqueles que foram “enganados” pelo adjetivo “acadêmico” do musical. O que se viu foi um verdadeiro elenco de estrelas.
A produção
É impossível ver tal espetáculo e não imaginar o trabalho absurdo que acontece por detrás da montagem. Ainda mais quando falamos de uma produção sem grandes patrocinadores.
Aqui mais uma vez todos merecem destaque. A direção geral de Élia Cavalcante (assistida por Gabriela Abreu) se uniu à direção musical de Thaís Uessugui e às criativas coreografias de Giovana Zoltay para criar algo além da réplica de um musical consagrado da Broadway. Sem esquecer de todas as outras pessoas envolvidas que sem dúvidas fizeram parte do brilho da montagem.
A única crítica plausível não é, contudo, dirigida à produção e sim às grandes empresas do Distrito Federal que parecem ainda não enxergar o potencial dos musicais na cidade.
Embora se perceba claramente o intuito de fazer algo excelente, tanto o figurino como o cenário do musical poderiam utilizar mais investimentos caso eles houvessem.
É de conhecimento de todos que não se trata de um fenômeno exclusivo dessa montagem e até mesmo nem do gênero mas demonstra a necessidade de parcerias para este tipo de espetáculo.
É de conhecimento de todos que não se trata de um fenômeno exclusivo dessa montagem e até mesmo nem do gênero mas demonstra a necessidade de parcerias para este tipo de espetáculo.
O público que lotou as apresentação no teatro Dulcina de Moraes provavelmente concorda com a mensagem do musical e saiu de lá se questionando como medir os momentos de suas vidas. Rent ensina a medir em amor
Texto: Danilo Vasques, Dihego Luk e Ricardo Mendonça
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