segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Quero Ser Broadway Pt. 1 (matéria Jornal da Tarde)


Que o mercado brasileiro de musicais está consolidado, isso é notório. Em cartaz no Rio de Janeiro, como Xanadu, e São Paulo, como Hair e Cabaret, as produções são praticamente idênticas às americanas da Broadway. Em breve, vão estrear por aqui A Família Addams e Priscilla, a Rainha do Deserto. O movimento, no entanto, agora é outro. Se o fluxo de espetáculos vindos de lá é cada vez maior, talentosos artistas brasileiros estão deixando o País para tentar a vida no Theater District, em Nova York, onde estão localizados os principais musicais da Broadway. Um caminho longo, caro e concorrido.

Para conhecer como vivem esses brasileiros, o JT foi a Nova York e conversou com seis deles que atualmente moram na cidade. Três são recém-chegados. Outros dois, vivem há mais de dez anos por lá. E um deles, Paulo Szot, é o mais bem-sucedido na Broadway desde Carmen Miranda. Szot ganhou, em 2008, o Tony Awards de melhor ator (considerado o Oscar dos musicais), por seu papel em South Pacific.

A presença de brasileiros que tentam um lugar ao sol, ou à luz dos palcos americanos é tamanha que o canal Multishow prepara para julho o reality show Dançando na Broadway. No programa, a apresentadora Didi Wagner acompanha o dia a dia de seis dançarinos que sonham se fixar por lá. O programa, gravado no ano passado, mostra as longas audições a que os atores se submetem por um papel e os bastidores das montagens dessas peças. Alguns desses aspirantes trabalham de dia em pizzarias como garçons e, depois, vão correndo lutar pelo sonho de carreira. No fim da competição, os participantes são avaliados e um deles ganha cursos nos renomados Broadway Dance Center e New York Film Academy.

Talento e off-Broadway
Para Claudio Botelho, autoridade em musicais aqui no Brasil, e responsável pelas montagens e adaptações de títulos como A Noviça Rebelde, A Bela e a Fera, Chicago e O Fantasma da Ópera, as chances de um brasileiro na Broadway são remotas. “Paulo Szot é um caso em um milhão”, define. “A competição é apertada. A concorrência é absurda. A pessoa lá tem de se desdobrar em dois empregos e arrumar tempo para as audições”, explica.

Para quem vislumbrar essa vida, e quiser se arriscar, Botelho aconselha aproveitar a viagem para fazer cursos e voltar ao País para aproveitar o mercado daqui, que está aquecido. Os papéis, quando aparecem, alerta ele, são geralmente secundários ou em peças menores, da chamada off-Broadway (teatros para menos de 500 pessoas).

A bailarina, professora e produtora Fernanda Chamma também vê um cenário pouco otimista, mas achou sua brecha. Periodicamente, organiza viagens a Nova York, onde seus alunos fazem cursos intensivos. A próxima saída está marcada para abril, com 60 brasileiros. “Muitos voltam com vantagem frente aos que nunca saíram do País”, diz ela, coreógrafa de A Família Addams. “Os brasileiros se dão melhor nos palcos da Alemanha e Inglaterra. Somos talentosos. O problema é conseguir a documentação para ficar nos Estados Unidos.”

O mercado americano, no entanto, tem recebido como nunca turistas brasileiros – foram 655 mil só no ano passado em Nova York. As solicitações de vistos aumentaram 42% em 2011, o que levou inclusive o presidente Barack Obama a anunciar que facilitará o processo. Em Nova York especificamente, o número de brasileiros cresceu (no turismo) 77% em 2010 em relação a 2009, segundo o NYC & Company, órgão oficial de turismo da cidade.

A expectativa para esse ano é mais crescimento. Uma prova da força desse contingente, na plateia, é que peças como Mamma Mia! e O Fantasma da Ópera podem ser assistidas em português, com áudio dublado. Depois dos turistas brasileiros se esbaldarem na Broadway, o próximo passo, quem sabe, será viajar para ver artistas nacionais nos palcos de lá.


Por Felipe Branco Cruz
De Nova York

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