O teatro cearense rendeu-se ao musical. Novos espetáculos exploram o gênero em montagens caprichadas. Hoje, entra cena mais uma: Ópera do Malandro
Texto escrito pela talentosa Camila Vieira para O povo (www.opovo.com.br)
O teatro cearense rendeu-se ao musical. Novos espetáculos exploram o gênero em montagens caprichadas. Hoje, entra cena mais uma: Ópera do Malandro
Complexidade de produção. Cenários e figurinos suntuosos. Elenco numeroso. Orçamento estourado. Não é fácil montar um espetáculo musical no Brasil. Menos ainda no Ceará, que não tem o hábito de lidar com este gênero específico no teatro. No entanto, atores e diretores locais encaram o desafio de introduzir musicais aos seus repertórios. O exemplo mais recente é Ópera do Malandro, montagem de conclusão do curso de licenciatura em teatro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). A peça estreia hoje, às 20 horas, no Teatro Via Sul.
“Tivemos que nos ambientar com questões desconhecidas, pois o musical ainda é pouco pesquisado no Ceará. Encaramos o espetáculo como contribuição à diversificação dos gêneros teatrais. É um aprendizado do ainda estar sendo”, confessa Thiago Arrais, diretor geral do espetáculo. Por abranger diferentes modalidades artísticas como o canto e a dança, o projeto exigiu que a turma tivesse seis meses de preparação, antes de entrar nos ensaios. “É um primeiro contato com o musical, encarado de maneira séria, mas sem a pretensão de achar que resolvemos todas as questões. O projeto exige um aparato grande, trabalhoso e complexo”, afirma Thiago.
Ao todo, são 31 artistas envolvidos na equipe de criação de Ópera do Malandro, que tem cerca de duas horas de duração. A montagem integra outros núcleos artísticos do IFCE, como o coral das artes cênicas e o grupo de pesquisas em folclore Mira Ira. A escolha do texto surgiu desde a disciplina de canto. “A gente queria algo que tivesse música, dança e que fosse popular. Fomos apresentados ao texto de Chico, durante o curso, e nos apaixonamos”, lembra o aluno Dyhego Martins.
Os estudantes tiveram orientação vocal com o maestro Luis Carlos Prata, aulas de coreografia com o bailarino Luiz Otávio Queiroz e concepção musical de Ayrton Pessoa, do grupo Argonautas. “Os novos arranjos foram pensados com uma roupagem mais atual, que tivesse uma associação direta com a figura do malandro de hoje, sem perder a qualidade da música original. Colocamos samplers e batidas, mas mantemos a parte lírica e poética das canções de Chico Buarque”, explica Ayrton. Segundo o músico, a qualidade da peça depende da capacidade dos atores em lidar com várias habilidades. “Musical é sempre difícil, porque exige tudo do ator: interpretação, dança, canto”, destaca.
Outras montagens
O longo processo de ensaios também foi essencial para o grupo Ás de Teatro montar Você Não Consegue Parar!, livre adaptação do musical norte-americano Hairspray. “Passamos nove meses em preparativos intensos. Não existe um curso que agregue estas diversas habilidades, que são isoladas”, pontua Glauver Souza, diretor do espetáculo. Com temporada de apresentações de 2009 a 2011, a peça atraiu cerca de três mil pessoas. “Notamos que a própria classe teatral tinha resistência com o musical, mas a plateia gostou sem preconceito”. O sucesso da peça estimulou o grupo a montar outro musical: Companhia, inspirado no original de George Furth e Stephen Sondheim. Com elenco menor (redução de 25 para 14), a peça está em cartaz às sextas de julho, no Teatro Sesc Emiliano Queiroz. “O espetáculo anterior era alegre, colorido, com apelo de público. O novo é uma produção mais enxuta e séria”, comenta Glauver, que pretende ainda montar outro musical só com canções de Zeca Baleiro.
Além de ajudar na montagem de Ópera do Malandro, o coral das artes cênicas do IFCE volta a apresentar em agosto a peça A Noiva e o Condutor, musical inspirado na opereta do compositor Noel Rosa, criada originalmente em 1935. “A revista radiofônica de Noel tinha 20 minutos. Criamos o texto para adaptar em forma de teatro”, explica o diretor Aldrey Rocha. Ele acrescenta que, para aumentar a produção local de musicais, é necessário incentivo do poder público e formação dos profissionais. “Normalmente, são montagens de custo muito alto. Falta apoio maior para que o trabalho fique solidificado”.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A Ópera do Malandro, de Chico Buarque de Holanda, estreou em junho de 1978, no Rio de Janeiro. O texto é baseado na Ópera dos Mendigos (1728), de John Gay, e na Ópera de três vinténs (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill.
SERVIÇO
ÓPERA DO MALANDRO
Quando: Terças e quintas de julho, às 20hOnde: Teatro Via Sul (Av. Washington Soares, 4335 – 3º piso)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10,00 (meia)
Info.: 3404 4027 ou operadomalandroifce.com
COMPANHIA
Quando: Sextas de julho, às 20h
Onde: Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701 - Centro)
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Info.: 3452 9090 / 8826 1418
A NOIVA E O CONDUTOR
Quando: Sábados e domingos de agosto, às 20hOnde: Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701 - Centro)
Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Info.: 3452 9090
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