quinta-feira, 5 de abril de 2012

Crítica "As Mimosas da Praça Tiradentes"


Há seis anos Gustavo Gasparani iniciou um trabalho de pesquisa e busca por uma dramaturgia genuinamente brasileira para musicais, reconhecido com o Prêmio Shell 2009 de melhor Texto pelo musical "Oui, Oui... A França é Aqui!". Este ano, em conjunto com Eduardo Rieche, Gasparani escreveu uma homenagem sobre as mimosas meninas que ajudaram a firmar a Praça Tiradentes por mais de um século como o grande centro de efervescência cultural da cidade.

A peça está em cartaz no Teatro Carlos Gomes, e o endereço não poderia ser melhor. A própria história do teatro se confunde com o enredo da peça. Como já era de se esperar de Gasparani, houve uma detalhada pesquisa sobre o centro histórico do Rio de Janeiro, mas os autores resolveram se focar mais na diversão e nas aventuras e desventuras entre as Mimosas, sendo muito pontual ao contar a história da praça.


A impressão que temos é de que o objetivo principal do roteiro é se fazer rir, e, felizmente, o objetivo é alcançado. Super atualizado com as últimas gírias dos travestis, o que, por si só, já é o suficiente para arrancar boas risadas. O fio condutor é o mesmo já útilizado por inúmeras peças e filmes, mostrando as artistas lutando para reerguer um cabaret afundado em dívidas, com um desfecho previsível e sem grandes emoções.

A trilha sonora da peça é bastante empolgante. Ao ouvir músicas como "Pra Uso Exclusivo da Casa" cantada por Gasparani encarnado na pele de Vânia, você não consegue mais imaginar a canção sendo cantada em outro contexto, num casamento perfeito entre a letra e a ambientação da peça. Alguns números entram de repente e vão embora sem mostrar a que veio, mais a maioria deles se encaixaria perfeitamente num show de drag, e servem para mostrar o exagero e a espontaneidade das personagens.

O cenário de Ronald Teixeira é um show à parte. Quando as cortinas se abrem temos instantaneamente a lembrança dos cenários do teatro de revista, com muitas escadas e planos diferentes e, ao mesmo tempo, retrata bem um cabaré com seus tons escuros e um toque de decadência sem perder a elegância. O figurino de Marcelo Olinto é expressivo e exuberante, com direito a muitas trocas como "manda o figurino" de musical.

"As Mimosas da Praça Tiradentes" é uma peça divertida, que tenta prestar uma homenagem à Praça Tirandentes, mas não consegue colocar a importância histórica do local à frente dos números musicais multicoloridos. Mas, quem quiser saber da história, que recorra aos livros, quem estiver à procura de boas risadas, cenas de dança e, impossível não comentar, os corpos sarados do corpo de baile, as Mimosas estão à sua espera na praça Tiradentes.



Por Rafael Oliveira
Diretor cênico, roteirista e versionista da Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB)

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