Com estreia marcada para o próximo sábado, dia 14, no Teatro Marista, os atores-bailarinos-cantores do elenco de “Audições Abertas - O Musical” não param. Tudo tem que estar afinado e ensaiado. “Artista de musical é difícil porque exige mais. E, por mais que seja um espetáculo menor, sempre é uma super produção. É uma arte americana, né?”, dispara um dos diretores do musical cearense Juracy Oliveira.
Ele tem apenas 20 anos, mas já acumula três musicais no currículo, além de vários espetáculos de dança. É a vida de bailarino. Tudo começa muito cedo e não se pode parar. Ele se divide entre várias academias, onde leciona dança, e os ensaios da montagem baseada no famoso “A Chorus Line”, musical da Broadway de 1975. E, em pleno sábado à tarde, ele tem pique e disposição de comandar o ensaio do último número do show. Corrige os saltos, repete a coreografia e a contagem, tudo sem deixar de cantar.
Aficionado pelo gênero, Juracy conta que sempre sonhou com uma adaptação de 'A Chorus Line'. “Estou no Grupo 'Às de Teatro' desde o primeiro musical que fizemos, o 'Você não consegue parar!' (2009 a 2011), e sempre sugeri ao Glauver Souza, diretor da companhia e do espetáculo, que fizéssemos esse. Até que, depois de 'Companhia' (2011 e 2012), concordamos em trabalhar o 'Audições Abertas'", confessa.
Para Glauver, a montagem veio no momento certo porque é a que exige mais dança, canto e interpretação dos artistas. Era preciso experimentar e ter experiências anteriores. Além disso, o diretor comemora o momento tão fecundo e de exposição desse tipo de trabalho no teatro e na TV.
“Não é que o musical tenha saído de moda. É que no Brasil não tínhamos estrutura para um espetáculo tão grande. Agora, temos teatros que comportam receber musicais da Broadway. No Ceará, a estrutura ainda não é tão boa, mas temos uma galera que está se voltando para aprender mais sobre isso. Um grupo de artistas completos”, destaca o diretor do grupo Às de Teatro.
O que falta ainda é apoio para produções de grande porte. Apesar do comprometimento do elenco, os artistas não são remunerados. Muitas vezes, tiram do próprio bolso para depois serem ressarcidos. “Como não recebemos para fazer o espetáculo, trabalhamos em outros lugares, dando aula, estudamos... Por isso, ensaiamos aos sábados e domingos o dia todo e às quartas-feiras, de 21h até meia noite. É realmente um trabalho muscular”, explica Juracy.
Vida de artista
Aline Sampaio, 25 anos, dança desde criança e tem formação em Artes Cênicas. Está no elenco de “Audições Abertas” porque é apaixonada pelo gênero teatral. “A gente faz por paixão, ensaia de madrugada, finais de semana. A gente fica sem tempo para vida social e muitas vezes a família e os amigos não entendem”, diz a jovem que está estreando em musicais.
Acostumada a dançar e interpretar, ela vem ralando é para cantar bem. “Deus não dá asa a cobra. Se tivesse uma garganta boa, menina, ninguém me segurava”, brinca ela, que reconhece que se dedica mais às aulas de canto para suprir essa dificuldade.
O canto também é a zona mais frágil de Carol Benjamin, 31 anos. Uma das mais experientes do grupo, ela tem que “rebolar” para dar conta do trabalho de professora de dança e de teatro, com ensaios e família.
No ensaio que acompanhamos, o filho João Lucas, de 6 anos, assistia à aula como se aquele mundo fosse muito natural. “Ele já se acostumou a isso. A gente tem um tempo diferente. Nossos horários são alternativos e para estar com ele e ensaiar tenho que trazê-lo”.
Profissional há mais de 15 anos, Carol pontua que a convivência com os demais 14 bailarinos é muito boa. “Passamos muito tempo juntos. Tínhamos que nos dar bem, se não...”, brinca.
É a convivência também que permite a troca de experiências. Veterana, Carol tem muito o que passar para Iago Amaral, 19 anos. Bailarino desde 2005, ele é do tipo focado e perfeccionista. Apesar de jovem, garante que consegue dar conta de um mundo de coisas (faculdade de educação física, aula de jazz, ensaios da companhia de Dança e de Teatro). Mas, só vive para isso. “Estou o tempo todo dançando, concentrado no texto, no meu carro só toca o CD do espetáculo para eu ficar treinando. Tenho dificuldade de separar as coisas e meus amigos não entendem isso”, constata.
Dedicadíssimo, Iago já contundiu os dois joelhos e os tendões do pé dançando, mas vem aprendendo a se poupar, mesmo com a estreia chegando. “Não é só mais o corpo. Agora tem a voz também”, justifica.
Por: Karine Zaranza para o Diário do Nordeste
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