Álvaro Sena: Entre o teatro e a pizzaria
O ator e bailarino paranaense Álvaro Sena, de 35 anos, está nos Estados Unidos há mais de dez anos. Vivendo no Estado de Connecticut, a 45 minutos de trem de Nova York, o ator divide seu tempo entre o trabalho na pizzaria Sergio’s Pizza e a companhia teatral Nicu’s Spoon. No grupo desde 2005, já atuou em diversos espetáculos e dirigiu outros dois. Sena já trabalhava no Brasil como ator e foi para Nova York pela primeira vez a turismo. “Me apaixonei pela cidade. Depois, voltei para trabalhar”, conta.
Recentemente, Sena conseguiu o tão sonhado ‘green card’ (visto de residência definitiva). “O ‘green card’ foi me dado porque eu estou colaborando para as artes do país.” Mas é o trabalho na pizzaria que dá o dinheiro que ele precisa para se manter lá. “Antes de me aventurar nos palcos, fiz dois anos de aulas de inglês. Para falar sem sotaque, eu não decoro o texto e, sim, a forma como se pronuncia as palavras.” O ator explica que há vários trabalhos para atores nos EUA. “Faço peças de teatro, musicais, dublagens, comerciais. Esse últimos dão um dinheiro bom e rápido.”
Álvaro tem uma vantagem em relação a outros brasileiros: consegue falar inglês com e sem sotaque. “Há papéis em que é necessário falar com sotaque”, diz. Pela Nicu’s Spoon, Sena também dirigiu a peça dramática Wit, de Margaret Edson, vencedora do prêmio Pulitzer, que entrou em cartaz nos palcos da off-Broadway. A mesma peça foi novamente montada, mas dirigida por Lynne Meadow, e está em cartaz na Broadway, desta vez, estrelada por Cynthia Nixon, de Sex and the City.
Fábio Augusto Tavares da Silva: Acrobata e dançarino
Quando viajou para os EUA, em 1999, Fábio Augusto Tavares da Silva, de 36 anos, pretendia ficar apenas três meses no país. “Queria voltar para o Brasil e montar minha companhia de teatro e dança”. Mas Fábio, que é acrobata, dançarino e ator, se apaixonou por Nova York, e não voltou mais. Desde 2002, ele integra o grupo Streb Extreme Action, onde dá aulas de dança e atua como diretor de ensaio e diretor artístico. “A companhia contesta a forma tradicional de dançar com os pés no chão. Por que não fazer diferente?”, diz.
Uma peça da Streb chega a ter até 30 toneladas de equipamentos, que são bancados pelo orçamento milionário da companhia. Fábio se apresentará com o grupo na Olimpíada de Londres e já fez show na sede do Cirque du Soleil, em Montreal, no Canadá, durante o aniversário de 20 anos do circo.
Atualmente, a companhia está montando um espetáculo menor para caber nos palcos da Broadway. “Será uma espécie de ‘Fuerza Bruta!’”, diz. Fábio, no entanto, não tem ‘green card’ (carta de residência permanente no país) e todo ano enfrenta a burocracia americana para renovar o visto.
Quando morava no Brasil, ele trabalhou com Milton Nascimento e, depois, nos EUA, com a artista experimental Laurie Anderson. O acrobata mora no efervescente bairro de Williamsburg, Brooklyn, numa área que é considerada o que o SoHo foi para as artes na década de 80. “Acho que Nova York é a meca do artista. Para o artista ser realizado, tem de passar por aqui.”
Ana Carolina Araújo: Ela é atriz e jornalista
Ana Carolina Araújo, de 23 anos, está em Nova York há pouco mais de sete meses, mas já atuou como dançarina na peça off-Broadway The Love Letter You’ve Been Meaning to Write New York e também como figurante em dois curtas-metragens. Natural de Juiz de Fora, Minas Gerais, Ana Carolina é formada em Jornalismo, mas sonha em ser atriz. “Quando me formei, mandei currículo para vários jornais brasileiros que circulam em Nova York e fui contratada pelo Brazillian Press”, explica.
Atualmente, ela está trabalhando no The Christian Post e intercala o trabalho com cursos de teatro e canto, audições e aulas de inglês e accent reduction (para acabar com o sotaque). “É o trabalho no Christian que paga minhas contas. Mas ele é full time, então, tenho de me desdobrar para conseguir fazer cursos e audições”, explica.
Ana Carolina conta que a “bíblia” dos atores em Nova York é o jornal Backstage, que traz anúncios de audições para vagas em espetáculos da Broadway. “Foi lá que consegui os trabalhos”, diz. O problema, segundo Ana, é mesmo o sotaque e um certo preconceito que americano tem com brasileiro. “Só fui escolhida para essa peça porque disse que era brasileira e eles acreditaram que eu sabia dançar.” Além disso, explica a atriz, os cursos de teatro são muito caros, entre US$ 800 e US$ 1,5 mil por mês. “Mas vou me dar essa chance. Vou tentando a sorte em audições noturnas e durante os fins de semana.”
Gabriel Malo: Reality Show e bolsa de estudos
No Brasil, o paulista Gabriel Malo, de 24 anos, trabalhou nos musicais Hairspray e West Side Story. “Precisava me especializar e vim para Nova York em julho de 2010. Sempre quis vir para cá”, diz ele. Para se manter, Malo é garçom em um café e intercala o trabalho com um curso de dança, voz e teatro na Step On Broadway, onde tem bolsa de estudos. “Enquanto isso, vou fazendo audições para outros trabalhos.”
Malo foi um dos seis dançarinos escolhidos pela produção do canal Multishow para participar do reality show sobre brasileiros na Broadway. “Foi ótimo, porque conheci muitas pessoas importantes. Tivemos contato com ótimos diretores e fizemos várias audições”, lembra. “O reality não será apelativo. Nos mostrará batalhando para atingir nossos sonhos.” Por enquanto, Malo garante que está conseguindo se manter. “Se eu não tivesse bolsa de estudos, eu teria que arcar com US$900 por mês. Atualmente, gasto, mais ou menos, US$1,7 mil por mês com moradia, transporte, alimentação.”
O dançarino conta que ama musicais, mas sabe que não é um estilo brasileiro. “Quero aprender mais e sei que só vou conhecer coisas novas se estiver inserido neste meio”. Por enquanto, Malo não pensa em voltar para o Brasil. “Estou naquela de ‘deixa a vida me levar’, para ver onde vai dar”, diz. Em menos de dois anos, Malo parece que está conseguindo realizar seus sonhos.
Felipe Tavolaro: Especialização no exterior
Felipe Tavolaro, de 26 anos, mora em Nova York desde outubro de 2010. O tempo que ele está passando na cidade é comparado a uma residência médica. “É assim que vou me especializar”, explica. Enquanto morava no Brasil, Felipe atuou nos musicas A Noviça Rebelde e O Despertar da Primavera. Atualmente, o dançarino é bolsista na American Musical and Dramatic Academy (AMDA) e foi um dos escolhidos para participar do reality show Dançando na Broadway, do canal Multishow. “Lá na escola, eu tenho aula de teatro musical, atuação, canto e voz para texto, balé, jazz, sapateado, sotaque e ginástica acrobática.”
Um dos objetivos de Felipe é se especializar e voltar para o Brasil, onde poderá aplicar o que aprendeu. “Somos talentosos. Em 20 anos, estamos realizando espetáculos que podem ser comparados com os da Broadway, que faz isso há mais de 100 anos”, diz o dançarino, que acredita que uma das principais diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos é o dinheiro que os americanos têm para investir nos musicais.
Seu dia é praticamente preenchido com estudos. “Ontem, eu tive aula das 8h até as 20h. Depois, fui trabalhar num espetáculo, onde fiquei até as 22h. E hoje eu fiz tudo de novo.” Para se manter, Felipe usa o dinheiro que ganhou no Brasil com os musicais que fez, além do trabalho como cameraman em Nova York, em que ganha US$ 10 por hora.
Paulo Szot: Sucesso na Broadway
O paulista Paulo Szot, de 42 anos, é hoje o brasileiro mais bem-sucedido na Broadway desde Carmen Miranda. Em 2008, ele ganhou o Tony Awards (o Oscar dos musicais) de melhor ator, por seu papel em South Pacific. Mas Szot não é ator por formação. Ele é barítono e canta em concertos de óperas. “O Tony abriu muitas portas para mim. Passei a ser reconhecido em todo o mundo. Estou negociando minha agenda para 2015. Até lá, já estou com ela quase toda lotada”, diz ele, que mantém contrato com o Metropolitan Opera de Nova York.
Szot não vive em Nova York. Ele mantém um sítio em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, para onde vai descansar, enquanto intercala sua agenda entre os palcos de Los Angeles, Nova York e Europa. “Tive de recusar convites para Evita e A Gaiola das Loucas, ambos na Broadway, porque tenho as temporadas agendadas com o Metropolitan. A ópera é a minha prioridade. O South Pacific foi até agora meu único trabalho na Broadway.”
Szot recebeu a reportagem no suntuoso Hotel Carlyle, em Nova York, onde atualmente faz temporada de show em que interpreta músicas de cabaré, standards americanos e bossa nova. “Faço questão de cantar músicas brasileiras.” O palco onde Szot canta é o mesmo onde, às segundas-feiras, Woody Allen toca oboé com sua banda de jazz.
Para o ano que vem, Szot confirmou que se apresentará no Brasil num dos musicais da dupla Claudio Botelho e Charles Möeller. “Mas não posso adiantar qual será esse musical.” Ele diz que vários brasileiros o procuram pedindo dicas de sucesso. “Tem de vir e tentar”, diz.
Kiara Sasso: Me apaixonei por musicais
A carioca Kiara Sasso atuou em praticamente todos os grandes musicais brasileiros nos últimos dez anos. Com nacionalidades americana e italiana, a atriz mudou-se para os EUA aos 3 anos, onde viveu até os 15.
Na Broadway americana, ela quase entrou em diversos espetáculos, sempre sendo preterida por aparentar ser mais jovem do que realmente é. Este, aliás, é um dos motivos pelo qual ela não revela a idade. Atualmente, Kiara está em cartaz no musical Hair. No futuro, quer voltar para os EUA e, quem sabe, então, ser aprovada num musical de lá.
Você se lembra do primeiro musical que assistiu?
Sim. Foi O Fantasma da Ópera, com 11 anos. Me apaixonei por musicais e descobri que queria cantar. Aos 8 anos, eu já trabalhava nos EUA como atriz em comerciais de TV.
Quando começou a trabalhar com musicais?
Quando tinha 14 anos, voltei para o Brasil e vi o musical Banana Split. Uma das meninas deixou o elenco e eu me candidatei. Passei no teste e fiquei de vez no Brasil para trabalhar. Com 18 anos, eu atuei em As Malvadas, o primeiro musical da dupla Claudio Botelho e Charles Möeller.
Para quais musicais fez teste na Broadway?
Em Grease e Footloose, fui aprovada, mas não entrei. No primeiro, porque aparentava ser mais nova. No segundo, porque o papel original era de uma negra e o sindicato não autorizou o diretor modificar a etnia da personagem.
Por que não fala a idade?
É assim com os atores em todo o mundo. É para deixar abrangente. Já perdi muitos papéis por aparentar uma idade diferente da que tenho.
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