Murilo Armacollo, 24 anos, o Julio - que se transformou na transexual Julie - na microssérie "O Brado Retumbante", da Globo, se prepara para viver o mulherengo Joe Vegas no musical "Fame", a partir de maio, em São Paulo, que entre outros artistas, tem no elenco Klebber Toledo e Paloma Bernardi.
Ainda na sexta-feira passada (17), em seu Twitter, o ator comemorou os preparativos para o papel: "Hoje no ensaio de Fame, Silvia Pinho explicou a nossa fisiologia vocal, simplesmente a MELHOR do Brasil, cuidando de nós! #sortudos".
Em entrevista por telefone à QUEM, o paranaense radicado em São Paulo há seis anos, disse que ficou chocado ao se ver como a personagem Julie, quando gravou a série de outubro a dezembro de 2011. "Olhei e tomei um susto. Parecia a minha irmã mais nova, mas com o cabelo mais escuro". Bárbara Armacollo, mais loura que o ator, tem 21 anos. Ele também falou que decidiu emagrecer 15 kg em duas semanas, antes da prova de figurino. "Tinha de estar delicado. Mas a parte mais 'prazerosa' foi a depilação porque sempre estava de saia na TV e andar de salto", ironizou. Para compor Julie, o ator teve ajuda de treinadores de corpo, voz, e conversou com "meninas" (como ele chama as transexuais) de verdade.
Ele ainda afirmou que não teria problema em ter um relacionamento com uma transsexual. "A série serviu para tentar acabar com esse preconceito e mostrar que a transexual é uma mulher no corpo de um homem. Elas têm uma vida normal, mas até acontecer a cirurgia e a mudança de documentos, elas enfrentam problemas, principalmente em relação a emprego". Veja a íntegra dessa entrevista, abaixo:
QUEM: Como foi fazer os personagens Júlio e Julie em "Brado Retumbante", da Globo?
MURILO ARMACOLLO: Muito prazerosa. Mas muito difícil porque o personagem era muito fora da minha realidade, diferente de mim. Para compô-la, tive ajuda de coachs corporal, também para fazer laboratório, oficina... Até pegar o jeito da personagem. Até porque a gente não queria fazer nada caricato, mas algo bastante verdadeiro e próximo à realidade de uma mulher. Essa foi a proposta inicial da personagem. Foi um tanto dolorosa, esteticamente, porque tive de fazer depilação, aprendi quanto é (ironicamente falando) 'divertido e prazeroso' fazer à cera. Na verdade, tenho sorte de não ter muito pelo no corpo, no braço não tenho tanto, mas minha perna foi um problema. Tive de fazer na perna inteira porque eu usei saia, saia e saia. E a perna tinha de ficar 100%.
QUEM: Você teve de fazer algum outro sacrifício?
MA: Quando fui escalado para fazer Julie, tinha feito uma prova de figurino, e senti que estava grande demais porque estava me preparando para estrear o espetáculo 'Cabaré' (com Claudia Raia), onde eu ficava praticamente pelado em palco, e lá tinha de estar bem esteticamente, (com o corpo) definido. Quando fiz a primeira prova (para o 'Brado'), a equipe não falou nada, mas sabia que tinha duas semanas até a final, e fiz uma dieta rigorosa de proteína, cortei carboidrado, parei de frequentar a academia e fazia só exercício aeróbico. Corria 20 km por dia, e em duas semanas saí de 75 kg, e fui para os 60 kg. Agora, estou fazendo uma reeducação alimentar para voltar como era antes, mais musculoso, definido.
QUEM: Como você fazia o papel de uma transexual, as pessoas te reconhecem vestido de homem?
MA: Sim porque foi muita imagem minha não só como Julie, mas antes, como Julio. Mas a primeira coisa que as pessoas que me param na rua, falam: 'Você é ator?'. Eu falo que sim, e perguntam: 'você era a filha do presidente?'. E elas me reconhecem sim, e tenho sido elogiado. E isso veio de encontro ao que a gente queria, que era dar vida à uma personagem delicada, mostrar um universo ao que as pessoas não estão acostumadas. Mas as pessoas receberam muito bem e, graças a Deus, sou bem recebido e elogiado (nos lugares).
Ensaio de Fame
QUEM: Para compor Julie, você teve algum contato com transexuais?
MA: Eu tive laboratório com essas meninas, e estudei muito sobre a personagem, além do transtorno de identidade de gênero. Eu soube de diversos casos, de pessoas que fizeram a cirurgia, e não tinham relação sexual, mas isso é muito particular. Mas não foi explorado isso na série, e foi de grande sabedoria, e o recado foi passado. Além disso, me inspirei na Marilyn Monroe. Me tranquei durante uma semana em casa, e assistia diariamente seus filmes. Peguei esse ícone para conseguir focar na feminilidade, gestos mais delicados que ela tinha.
QUEM: E como foi a reação dos seus pais ao saber que você ia aparecer como uma transexual na TV?
MA: A primeira reação da minha mãe, eu liguei pra ela e disse: 'Mãe, estou escalado (para viver uma transexual)'. E ela: 'Você sabe da responsabilidade que você vai ter, né?', disse m forma de bronca. Ela disse que eu teria de estudar bem sobre o assunto para que pudesse representar bem essas meninas.
QUEM: Quem foi a primeira pessoa a ver Julie?
MA: Fui eu mesmo, e confesso que fiquei um tanto quanto chocado, além é claro do pessoal da maquiagem e figurino da Globo. Cada um fez uma parte, e acho que no final, eu me olhei no espelho e vi minha irmã, só que com o cabelo mais escuro porque minha irmã é loira. Olhei e falei: 'Meu Deus, estou a cara dela, só que morena'. Vinha um, fazia unha, cabelo, outro a maquiagem, e no fim eu vi Julie completa. Grande parte na minha irmã mais nova, Bárbara, principalmente na questão de voz. A primeira reação foi choque mesmo porque estava pensando se iria conseguir fazer as pessoas acreditarem que é uma mulher. O pessoal da produção também se assustou, perguntando o que eu tinha feito. E falei que se era para viver uma mulher, eu teria de estar delicado.
QUEM: Como foi pra você estrear com um time consagrado?
MA: Era um mega sonho. A Maria Fernanda Cândido, Domingos Montagner, e o diretor Gustavo Fernandez. Eu estava muito nervoso ele (o diretor) e a equipe disseram para eu me acalmar que estava ali porque havia mandado bem (no teste), e quando a gente começou a gravar foi um bate-bola de igual para igual. Então, não tive nenhum bônus nem ônus. Eles me ajudaram muito nessa gravação. Mas foi engraçado... Quando estava andando, às vezes, dava aquela torcida no pé com o salto, porque não estava acostumado...
QUEM: Você namoraria com uma transexual?
MA: Uma transexual é uma mulher. Assim como eu tive essa experiência, acredito que não teria problema. Elas são meninas, mulheres que nasceram em corpo de homens. E é o que elas querem (ser reconhecidas como mulher). Porque muitas delas, após a cirurgia, já assinam como tal. Não tem esse tipo de preconceito. 'Até porque pode estar com uma que já operou e nem sabe' (brinca). Espero que todas as pessoas deixem com esse preconceito e, o que queria com a série, é que essas meninas tivesse o mesmo tratamento que nós temos. Porque, diversas vezes, têm problemas com emprego. A maior delas é conseguir um emprego porque elas já fizeram, mas ainda estão com os documentos antigos. Elas vão fazer uma semana de trabalho temporário, elas fazem, mas depois não passam por causa desse conflito com os documentos. Quero só que elas tenham direito a viver uma vida normal (perante a sociedade). Vou finalizar com uma frase que o Domingos usou para terminar a série: Nada do que seja humano não seja estranho.
QUEM: E já tem planos para este ano na TV ou teatro?
MA: A gente gravou o 'Brado' entre outubro e dezembro, mas agora estou me preparando para o musical "Fame", da Broadway, que está vindo para o Brasil e estreia em maio, no shopping Frei Caneca. Acredito que depois de São Paulo, o espetáculo vá para o Rio de Janeiro. O elenco tem Klebber Toledo, Paloma Bernardi, Mari Moon e mais um elenco bem grande. Na montagem, eu vou fazer Joe Vegas, que é bem diferente da Julie. Ele é um mulherengo, e vai ser bem legal porque é puxado par ao lado da comédia, é um grande show de entretenimento. Na TV, ainda estou estudando propostas, mas nada definido.
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