Com inúmeros musicais em cartaz na cidade do Rio de Janeiro fica difícil para um visitante escolher o que assistir. Por vezes acaba-se apostando no “certo”, que seriam as peças importadas da Broadway com sucesso garantido por lá. Mas existem várias produções originais do Brasil que não deixam nada a desejar para as peças Made in USA. Esse é o caso de “Emilinha e Marlene, as Rainhas do Rádio”.
A peça está em cartaz no teatro Maison de France, no centro do Rio de Janeiro, e é um feliz resgate dos tempos de ouro do rádio. O espetáculo nos conta, através das memórias de duas irmãs, sobre a vida, a carreira e a conhecida rivalidade entre as cantoras Emilinha Borba, interpretada por Vanessa Gerbelli, e Marlene, interpretada por Solange Badim.
O texto, por ser biográfico, deve ser fiel ao que aconteceu e, por isso, não conta com grandes surpresas, mas devido à agilidade na direção, a peça flui ligeiro, sem cansar, durante as quase três horas de espetáculo. O repertório musical apresenta músicas conhecidas como a marchinha “Chiquita Bacana” e quando Solange Badim começa a cantar “Lata D’água na cabeça...” várias senhorinhas na plateia continuam baixinho “Lá vai Maria... Lá vai Mariiiiia” (e, confesso, alguns marmanjos cantam também).
Mas para mim, que (in)felizmente não vivi na época áurea da radio nacional, a surpresa foi conhecer músicas divertidíssimas, com letras afiadas que se encaixam perfeitamente nos tempos atuais, como é o caso de “Esposa Modelo”. A plateia se diverte quando a personagem Marlene diz que quer se casar, não exige muito, apenas o básico: “Tenho dieta / Só posso comer lagosta / Maionese, aspargo e ostras / Tudo isso regadinho com champanhe”.
O elenco de apoio é talentosíssimo e muito entregue, fazendo pequenos personagens se destacarem e chamarem a atenção da plateia, como é o caso de Cilene Guedes vivendo Bibi Ferreira e da hilária vizinha interpretada por Mona Vilardo. Os figurinos muito corretos e eficientes, trazendo toda a pompa da época, exagerados quando precisam ser, e fazem a maquiagem dispensável, pois acompanhamos o envelhecimento das personagens através das roupas que usam.
O único ponto fraco é o cenário um tanto cru e abstrato, não combinando com o glamour da época que a peça quer representar. Mas ele ganha pela eficiência e versatilidade, além de ter sido muito bem aproveitado pela direção de movimento. Mas, sem dúvida, é uma montagem que vale a pena ser vista, não somente pelo resgate da história musical brasileira, mas também por ser um espetáculo excelente.
Diretor Cênico, Roteirista e Versionista da Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB)
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