TEATRO MUSICAL BRASILEIRO
por Antonio de Bonis
O sucesso dos musicais neste momento no Brasil (mais precisamente no eixo Rio/São Paulo) não pode ser considerado uma coisa de agora. Desde o teatro de Revista, da opereta, que é a precursora da comedia musical, o público tem prestigiado e muito o teatro musicado.
No tempo das Revistas e das operetas, também tínhamos uma invasão de artistas e espetáculos estrangeiros. Mas já naquele tempo com a intenção de valorizar a nossa cultura surgiram artistas como Arthur Azevedo, Chiquinha Gonzaga e outros. Graças à revista temos hoje o nosso Samba que é uma música que podemos chamar de nossa, apesar de suas raízes africanas (semba). Mas esta também é uma tendência do nosso povo, absorver outras culturas e transforma-las, assim como também fez com o carnaval.
Me identifico com essa busca da transformação e da identidade com o que é nosso, talvez seja ainda uma grande influência da geração que antecede à minha e da minha própria. Quem pode esquecer e contestar os espetáculos do Arena (Arena conta Zumbi, Arena conta Tiradentes) os do grupo Opinião (Opinião e Liberdade, Liberdade) espetáculos musicais de Chico Buarque como Roda Viva, Calabar, Ópera do Malando e Gota D’água?
É nessa busca que quero encontrar uma identidade, uma brasilidade, para o meu trabalho e para o musical que tenha a cara do Brasil. Desde 1989 quando fiz o meu primeiro musical: Lamartine Para Inglez Ver, passando por Dolores Duran, Orlando Silva, Dorival Caymmi, Carmen Miranda, e agora em fase de ensaios Emilinha e Marlene As Rainhas do Rádio, me propus a ser coerente nessa busca.
Nada contra os musicais americanos ou os ingleses, muito pelo contrário. Sou da opinião que temos que ter esta diversidade cultural assim como na musica, na pintura, na literatura etc...
Gostaria somente que todos os que estão nesta busca, de uma linguagem brasileira, e na preservação dos nossos valores culturais, tivessem as mesmas condições na hora de colocarem em prática seus projetos. Os patrocinadores deveriam olhar para os projetos brasileiros com a mesma generosidade com que olham um estrangeiro, para que possam competir de igual para igual em termos de produção. O Orçamento de um espetáculo brasileiro nunca capta o real valor orçado pela produção, consegue, quando muito, a metade e às vezes um terço do valor orçado, enquanto um projeto estrangeiro é sempre agraciado com cifras astronômicas. Mas como somos eternos sonhadores e batalhadores, realizamos nossos espetáculos com os parcos recursos conseguidos e ainda damos graças a Deus.
Nos tempos do Teatro de Revistas, não foi diferente. A Revista, depois de conseguir uma identidade brasileira sucumbe ao luxo e à riqueza daquela proposta por Walter Pinto que era o modelo estrangeiro. Tudo era importado, desde as vedetes ao material empregado na confecção dos cenários e figurinos e a própria estrutura do espetáculo. Até quando vamos deixar de valorizar o que é nosso!
Hoje temos atores preparados para esses grandes musicais americanos. Espero que não esqueçam de se preparar também para cantarem samba, bossa nova, maxixe, baião, forró, assim como também aprendam as danças brasileiras.
Gostaria de fechar este texto citando e cantando Ary Barroso que apresentou esta musica (Aquarela do Brasil) no musical brasileiro “Joujoux e Balangandãs”, que foi patrocinado pela nossa então primeira dama Darcy Vargas:
“Brasil / Meu Brasil brasileiro / Meu mulato Inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos."
Reprodução: Revista Cal Digital
O nosso obrigado ao nosso colunista Rafael Oliveira pela dica
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