terça-feira, 11 de outubro de 2011

Cinema x TV x DVD x Teatro



Em São Paulo, para se assistir a um musical produzido pela T4F num assento decente você desembolsa, no mínimo, R$80,00. O Ingresso de cinema em Brasília sai por volta de R$10,00. O aluguel de um DVD, lançamento, está na faixa dos R$6,00 e não se paga nada para assistir um filme em TV aberta. Fora as diferenças financeiras, existem muitas outras que não podem passar despercebidas.

Os avanços tecnológicos na área cinematográfica nos têm trazido muitas surpresas. Ver um elefante nas telas do cinema já foi uma experiência inesquecível que, hoje em dia, é totalmente comum, mas quando Hannibal entra no palco, diante da platéia, montado num elefante nas primeiras cenas de O Fantasma da Ópera, é notável a reação da platéia (mesmo sendo um "elefante cenográfico"). Num cinema ou num teatro você deve assistir a produção no ritmo imposto pelos diretores, e você pensa duas vezes antes da ir ao banheiro ou sair para comer alguma coisa, o que certamente não acontece se você está assistindo um DVD em casa, onde você impõe quando pode parar, ou é bombardeado por quebras na narrativa por comerciais periódicos num filme em TV aberta.

Sejamos um pouco mais específicos e vamos falar de espetáculos musicais. É claro que ninguém é obrigado a gostar do gênero, mas o musical na última década tem sido tachado como chato e lento, principalmente no Brasil, devido a diretores que não conseguem adaptar bem a linguagem. Mas, graças aos céus, o inverso também acontece. Moulin Rouge! (2001), filme escrito e dirigido por Baz Luhrmann, é um ótimo exemplo de musical bem adaptado para as telas do cinema. Tente imaginar sua cena favorita deste filme reproduzida num palco e você verá que é praticamente impossível sem uma severa limitação. A câmera dança pelos ambientes, em takes rápidos e precisos, com muitos cortes, te levando de uma imagem panorâmica de Paris até o interior da casa de espetáculos em questão de segundos, o que somente a linguagem cinematográfica permite.

Já no palco a história é outra. Tudo precisa acontecer ao vivo, diante dos olhos do público que é livre para focar em qualquer detalhe que lhe interessa, diferente do cinema que direciona seu olhar exatamente para onde o diretor deseja. E a platéia adora ter essa liberdade, e dá valor ao que está acontecendo em tempo real, onde a possibilidade do erro proporciona um tempero único. Mas, infelizmente, assistir às grandes produções musicais na Broadway ou mesmo em São Paulo é privilégio de poucos bem afortunados, deixando somente gravações em vídeo, muitas vezes de baixa qualidade (quando não totalmente ilegais), para os apreciadores dessa arte que não possuem o nece$$ário para assistirem ao vivo.

E é neste ponto que as linguagens se fundem: o que esperar de uma gravação em vídeo de uma peça representada no palco? É preciso dar todos os descontos. A iluminação que foi projetada para o teatro, que procura criar uma profundidade no fundo palco, realçar certos cenários, sendo extremamente rica em nuances e tonalidades, pode arruinar uma gravação em vídeo, pois essa necessita de mais luz branca, bidimensional, sendo a câmera incapaz de registrar pequenas variações que nosso olho capta, sem contar os ajustes que podem ser feitos no nosso próprio aparelho em brilho e contraste que podem distorcer por completo o plano de luz do iluminador.

Assim, antes de assistir a um DVD em casa, procure preparar o ambiente para não ser interrompido, silencie seu celular como você o faz numa sala de cinema ou teatro. Entre neste universo e você irá se divertir muito mais. E vamos torcer para que os próximos musicais que nos são trazidos às telas tenham diretores que saibam usar a linguagem, para o nosso bem e para a fama dos filmes musicais. Melhor do que isso, só assistindo direto do palco.





Por Rafael Oliveira
Diretor cênico, roteirista e versionista da Escola de Teatro Musical de Brasília (ETMB)

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